Neste texto de 2013, Breno Altman fala sobre o muro social e a cerca étnica em Israel. De um lado, alguns intelectuais e líderes sionistas mais à esquerda chegam a dizer que Israel caminha perigosamente para um modelo inspirado pelo apartheid sul-africano. Por outro, as correntes mais à direita, no governo, rejeitam a comparação e afirmam que Israel somente se adapta às necessidades do combate ao terror. Apesar de seus muros e cercas, Israel exibe vitalidade econômica e poderio tecnológico. Vive, contudo, os conflitos de um sistema que produz desigualdade social, discriminação étnica e tentação colonial.
O caráter fascista de setores do sionismo, que ainda é a doutrina oficial do Estado de Israel, foi identificado em 1948 por Hannah Arendt, Albert Einstein e mais 22 judeus novaiorquinos quando da visita de Menachem Begin à cidade dos Estados Unidos. Begin era líder do Tnuat Haherut, “um partido político estreitamente assemelhado em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social ao nazista e a partidos fascistas”. O Tnuat Haherut (Partido da Liberdade) fundiu-se com outros partidos conservadores em 1973 para formar o Likud, que tem integrado o governo israelense.
Para Noan Chomsky “as negociações [com os palestinos] fornecem uma cobertura para aquisição dos territórios que Israel pretende controlar e podem poupar os Estados Unidos de mais algum constrangimento na ONU. A implantação dos assentamentos foi minando as perspectivas realistas de se alcançar qualquer autodeterminação palestina significativa”. A autonomia palestina é uma "autonomia como em um campo de prisioneiros, onde os prisioneiros são 'autônomos' para cozinhar suas refeições sem interferência e capacidade de organizar eventos culturais".
“O judaísmo, como raiz étnica, foi forjado pelo sionismo para dar sustentação a seu projeto nacionalista”.“Os judeus se constituem de vários povos, com culturas e histórias distintas, formado também por grupos convertidos, que assumiram uma mesma identidade religiosa. Mas a homogeneidade, como nação desprovida de território, era indispensável para o raciocínio sionista”. A assertiva está no livro A invenção do povo judeu, do professor Schlomo Sand, do departamento de ciências humanas da Universidade de Tel Aviv. O primeiro congresso sionista foi realizado em 1897 na aprazível cidade suíça de Basileia.
“Justamente por termos vivido o Holocausto, temos de aprender a tolerância e o respeito pelos outros - não usar o nosso sofrimento como uma desculpa para oprimir os outros". A frase é da Neturei Karta, judeus contra o sionismo, um grupo de judeus ortodoxos contrário ao sionismo e ao estado de Israel. A sua crítica fundamental é de que a ideologia do sionismo transformou o judaísmo de religião espiritual, em nacionalismo materialista. Acreditam que paz só será possível com o desmantelamento do Estado de Israel. Denunciam também a conivência sionista com o Holocausto.
Stephen Walt, professor de relações internacionais na Kennedy School of Government, em Harvard, analisa o livro Brokers of Deceit escrito pelo historiador da Universidade de Columbia, Rashid Khalidi, e afirma que a publicação “é uma grave acusação que revela o papel ignóbil dos Estados Unidos” nas relações entre o Estado de Israel e os palestinos. Ao agir como “advogado de Israel”, em vez de um mediador honesto, os Estados Unidos têm ajudado a evitar, por mais de seis décadas desde quando a ONU propôs a divisão da Palestina entre árabes e judeus, a criação de um Estado palestino autônomo e independente.
Israel afirma que ocupou a região após a fuga dos seus habitantes palestinos sob o inventivo de seus líderes, que prometiam um retorno rápido e seguro. Mas os “novos historiadores” israelenses conseguiram jogar uma luz sobre os acontecimentos: A imensa maioria dos refugiados (entre 700 mil e 900 mil) foi constrangida durante os enfrentamentos entre israelenses e palestinos, durante a guerra árabe-israelense, no contexto de um plano político-militar de expulsão marcado por numerosos massacres. O relato é de Dominique Vidal, na revista Manière de Voir, publicação bimensal do jornal Le Monde Diplomatique.
Muito se tem falado e escrito sobre a presença do deputado Jair Bolsonaro na Hebraica Rio. Os discursos sempre ressaltam a estupefação de se ver um nazifascista na casa do judeu, numa referência nítida ao holocausto e à política de extermínio de judeus patrocinada pelo regime nazista, que encontra sintonia no discurso racista do parlamentar, aliás, repetido para a plateia da Hebraica.
Além das barbaridades expelidas por Bolsonaro, a imagem que se sobressai no palco da Hebraica é da bandeira de Israel. E, assim, o quadro de contradição deixa de existir. Pois o discurso misógino, racista, discriminador e pró-violência de Bolsonaro corresponde à prática patrocinada pelo Estado de Israel contra os palestinos no território ocupado no Oriente Médio.