
Discursos à parte, Trump prefere seguir seus instintos ou, como destacou o The Washington Post, tem uma “desinclinação em ler longos briefings ou consultar especialistas”.(2) Por sua falta de intimidade com a política externa e seu conhecido jeito intempestivo, Trump vai emplacar, após a demissão de John Bolton, o seu quarto assessor de Segurança Nacional em menos de três anos de governo.
O primeiro foi Michael Flynn, tenente-general aposentado do Exército dos Estados Unidos, que permaneceu 24 dias no cargo. Foi seu assessor de campanha na área de segurança e renunciou depois que surgiram as informações de que ele havia enganado o FBI e o vice-presidente Mike Pence sobre a natureza e o conteúdo de suas comunicações com o embaixador russo nos EUA, Sergey Kislyak.
O segundo, Herbert McMaster, era tenente-general em atividade, herói de guerra condecorado, com funções de comando no Iraque e no Afeganistão, foi considerado o conselheiro mais indicado para substituir Flynn, apesar de ter defendido em sua tese de doutorado em história, em 1997, que o alto escalão militar deveria ter enfrentado o presidente durante a Guerra do Vietnã – o que, há que se admitir, não é a postura mais indicada para o conselheiro de um presidente. Assumiu em fevereiro de 2017 e saiu em abril de 2018.(3)
O nome do consultor de segurança nacional não precisa ser aprovado pelo Senado, é indicação direta do presidente. O que se espera formalmente do consultor é a articulação do presidente com altos funcionários especializados, ponderando outros pontos de vista relevantes e sugerindo decisões políticas e ações práticas. De outra maneira, ainda citando o The Washington Post: “em uma administração típica, o conselheiro de segurança nacional convocaria uma reunião do presidente e de seus principais funcionários do Gabinete na Sala de Situação, discutindo diferenças e adotando uma estratégia”.(4)
O sucesso do trabalho do consultor depende da sua disposição de fazer essa articulação e do desejo do presidente de acompanhar esse processo e ouvir o seu resultado. Com Trump e Bolton nenhuma dessas condições estavam colocadas na mesa. Era um cabeça quente autossuficiente e outro intransigente, que excluía os discordantes. A mistura ainda durou 17 meses.
“Diferentes fontes citadas por veículos de comunicação assinalaram que, sob Bolton, o Conselho de Segurança Nacional se transformou em uma entidade separada dentro da Casa Branca, e que Bolton atuava de maneira distinta do restante da Administração, sem ir às reuniões e promovendo suas próprias iniciativas. Uma fonte da Casa Branca comentou à rede americana CBS News que Bolton tinha ‘suas próprias prioridades': 'ele não perguntava ao presidente quais eram suas prioridades. Prevaleciam as prioridades de Bolton'".(5)
“Ele reduziu a um mínimo de reuniões nas quais as principais autoridades de segurança nacional apresentam e avaliam opções para o presidente. Em alguns casos, ele substituiu especialistas em assuntos específicos no Conselho de Segurança Nacional de outras agências por almas gêmeas ideológicas que têm pouca experiência em servir nos níveis mais altos da formulação de políticas”, escreveu o The Washington Post (6).
Durante sua permanência na Casa Branca, Bolton deixou diversas arestas expostas. Tomou posse em 9 de abril de 2018 e antes de completar um ano no cargo, no dia 3 de março último, o The Washington Post destacou que, diante do desconhecimento de Trump, “Bolton acumulou um vasto poder sobre um processo de política externa muitas vezes desordenado”. Para seus críticos, destacava o jornal, “Bolton é o sussurro do falcão no ouvido de Trump, cutucando um presidente não escolarizado em assuntos mundiais” e sugerindo suas estratégias preferidas, sempre na linha do confronto e do “regime change” - a mudança de regimes não submissos aos EUA, como defendeu até antes de sair em relação ao Iran e à Coreia do Norte. (7)
No mesmo texto, escreveram os jornalistas norte-americanos: “algumas autoridades disseram que Trump às vezes reclama que Bolton segue uma política externa independente que nem sempre está de acordo com a agenda do governo ‘America First’ e o repreendeu por alguns de seus comentários públicos sobre o Oriente Médio e a Coreia do Norte. Ele brincou avisando Bolton para não iniciar nenhuma guerra. Mas não há sinais de que Trump esteja pensando em substituí-lo”.
Seis meses depois, no entanto, a situação estava diferente: a gota d’água foi uma “discussão acalorada no Salão Oval, seguida de acusações de outras autoridades do governo de que Bolton havia vazado informações para a mídia, tentando arrastar outras pessoas para suas disputas com o secretário de Estado Mike Pompeo sobre o Afeganistão, ao mesmo tempo em que promovia suas próprias opiniões e não as do presidente”.
Uma semana após a chegada de Bolton, Trump autorizou um ataque com mísseis contra a Síria e um mês depois, ele retirou os Estados Unidos do acordo nuclear do Irã. As duas medidas “foram vistas como sinais da chegada de Bolton”, escreveu The Washington Post. (8) Nesse período os EUA transferiram sua Embaixada em Israel para Jerusalém. Sempre medidas de confrontação, reduzindo as possibilidades de diálogo e a negociação.
Mais do que o estilo centralizador e o jeito trator de ser, a demissão de Bolton faz parte de um processo interno em que as táticas de políticas externas estão em avaliação. Por exemplo, a guerra comercial com China, iniciada por Barak Obama em 2015 e intensificada por Trump, está sob crítica. A confrontação direta, baseada na expectativa de implosão do regime chinês, já tem fortes opositores. A perspectiva de uma convivência tensionada exige uma diplomacia e uma política de segurança mais sofisticadas do que distribuir ameaças e bombas. Da mesma maneira a forma de se relacionar com Irã, Afeganistão e Coreia do Norte exige mais do que o ranger de dentes.
Até mesmo o secretário de Estado Mike Pompeo, um dos falcões mais virulentos contra o Irã no Congresso antes de o recém-eleito Trump tê-lo nomeado para chefiar a CIA, liderava as negociações com o Talibã. O agravamento das relações entre os Estados Unidos e Irã também criou tensões entre Trump e Bolton. Em junho, depois que Trump decidiu não ordenar um ataque militar após o Irã derrubar um avião não tripulado dos EUA, Bolton ficou “arrasado”, disse um oficial dos EUA familiarizado com o assunto. (9)
Apesar de sua política errática, o empresário Trump pretende o domínio econômico pelos EUA, colocando o poderio militar a serviço desse objetivo. Bolton é belicista, ideólogo da confrontação e da violência, da aniquilação dos “inimigos”. Não foi por outro motivo que poucos meses depois de sua nomeação, ocorrida em 9 de abril de 2018, ressuscitou o conceito de “Eixo do mal”, que já havia sido utilizado pelo 43º presidente dos EUA, George W. Bush, o Bush filho, em discurso de 29 de janeiro de 2002. No dia 6 de maio daquele ano, Bolton, então subsecretário de Estado, proferiu o discurso intitulado “Além do eixo do mal” e acrescentou Cuba, Líbia e Síria aos três países referidos anteriormente pelo presidente: Irã, Iraque e Coreia do Norte. Na versão trumpista, o Eixo do Mal foi atualizado para a “troika da tirania”. Em discurso em Miami, em 1º de novembro de 2018, explicou: “esse triângulo de terror que se estende de Havana (Cuba), a Caracas (Venezuela) e a Manágua (Nicarágua), é a causa do imenso sofrimento humano, motivo de enorme instabilidade regional e a origem de um sórdido berço do comunismo no hemisfério ocidental”.(10)
Não que esse discurso vá desaparecer, mas o governo Trump passa por um período de ajustes em sua política externa, transitando entre ações espetaculares, midiáticas, para impulsionar sua reeleição e a necessidade de manter um mínimo de estabilidade para que os negócios possam ser realizados. A queda de John Bolton não indica a prevalência de uma política de negociação, mas a possibilidade de maior flexibilidade. O big stick, por exemplo, continua a valer para a Venezuela.
Diante de pressões da extrema direita violenta, representada por Bolton, Trump já deixou claro que nada vai mudar para a Venezuela: “De fato, minhas opiniões sobre a Venezuela, e especialmente sobre Cuba, eram muito mais fortes do que as de John Bolton. Ele estava me atrapalhando!”, escreveu Trump no seu Twitter em resposta ao senador anticastrista Marco Rubio, um dos responsáveis, junto com o Secretário de Estado, Mike Pence, e o próprio Bolton, por levar o presidente a reconhecer o autoproclamado Juan Guaidó como “presidente encargado” da Venezuela.
De fato, fossem outros tempos, a forma de atuação representada por John Bolton poderia ter sido eficiente na Venezuela de hoje, não existisse o contraponto de China, Rússia e Irã para dar suporte ao país latino-americano, inclusive militar. E esse é exatamente o problema de Trump, os EUA não são mais a única potência a mandar no mundo. E não há indícios de que isso vá mudar, ao contrário.
E a política para a Venezuela é ainda mais reveladora. No dia 28 de agosto de 2019 o Departamento de Estado dos EUA anunciou a criação de uma Unidade de Assuntos da Venezuela (VAU, da sigla em inglês) que ficará localizada na Embaixada dos EUA em Bogotá (Colômbia) e terá como oficial responsável James “Jimmy” Story. Jimmy foi Cônsul Geral dos EUA no Rio de Janeiro, de onde saiu para a embaixada na Venezuela. Segundo comunicado do Departamento de Estado, “a Unidade de Assuntos Venezuelanos continuará com a missão dos EUA com o governo legítimo da Venezuela e dos venezuelanos”. O governo legítimo para os EUA é o do autoproclamado Juan Guaidó, que não se apresentou nas últimas eleições para concorrer ao cargo de presidente.
A Venezuela foi o maior fiasco da política de Bolton. O assessor prometeu um desfecho rápido. A aposta na solução violenta e ligeira materializou-se ao ressuscitarem Elliott Abrams, um dublê de diplomata e terrorista, envolvido no escândalo Irã-Contras da década de 1980, nomeado enviado especial dos EUA para “restaurar a democracia na Venezuela”. Abrams estava no ostracismo pela repercussão de suas peripécias, quando há cerca de 30 anos, no governo de Ronald Reagan, patrocinou o financiamento de grupos paramilitares que foram responsáveis por mais de 300 mil mortos somente em El Salvador e Guatemala. Abrams ficou conhecido como “Secretário de Estado para a guerra suja”. Mike Pompeo não deixa dúvidas sobre a indicação: "A paixão de Elliot pelos direitos e pelas liberdades de todos os povos faz dele uma peça perfeita e um acréscimo valioso e oportuno. Essa semana, o povo venezuelano rejeitou o governo ilegítimo do ex-presidente Maduro. Consistente com a constituição da Venezuela e com o apoio do povo venezuelano e da Assembleia Nacional, Juan Guaido declarou-se como o presidente interino da Venezuela. Esse é apenas o primeiro passo da Venezuela em direção à liberdade. Elliott será um verdadeiro trunfo para a nossa missão de ajudar o povo venezuelano a restabelecer completamente a democracia e a prosperidade em seu país".(11)

Abrams foi indicado por Trump no dia 22 de janeiro de 2019. Menos de dois meses depois, no dia 19 de março, em conferência de imprensa na Casa Branca, junto com o presidente brasileiro, Trump fez uma afirmação bombástica, fruto da excessiva confiança em sua política para a Venezuela: “todas as opções estão na mesa”, não descartando, portanto, a invasão militar do país. Acreditavam na divisão das Forças Armadas Bolivarianas e em um golpe contra Nicolás Maduro, conforme havia prometido Guaidó. O desgaste de Bolton foi enorme.
Bolton e Abrams não estavam sozinhos nessa empreitada. Tinham o apoio ativo de Mike Pompeo, secretário de Estado e ex-chefe da Agência Central de Inteligência (CIA), e do senador Marco Rubio, eleito pela base anticastrista da Flórida e membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado.
Posição reforçada pelo vice-presidente, Mike Pense: “O presidente Trump sempre teve uma visão muito diferente do nosso hemisfério”, disse à Fox News. “Ele entendeu há muito tempo que os Estados Unidos têm uma responsabilidade especial de apoiar e nutrir a democracia e a liberdade neste hemisfério e essa é uma tradição de longa data”.
Essa “tradição” foi expressa tanto por Mike Pence quanto por Bolton, afirmou o jornal inglês The Guardian, que “ecoaram recentemente a ideia da Doutrina Monroe do século XIX, de que a América Latina, no quintal dos EUA, não é coberta pela opinião geral do governo de uma abordagem não intervencionista”.(12)
O estilo de James “Jimmy” Story é outro. No dia 29 de junho de 2018 foi matéria no jornal O Globo por ter-se despedido do Rio com um vídeo declarando seu amor à cidade. “Ele só tem três anos de praia, mas já se considera um carioca honorário. Cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio, James Story montou um ‘escritório’ nas praias do Leblon e de Ipanema, onde costumava ser visto correndo ou saboreando uma caipirinha”. Essa imagem mais adocicada do que uma caipirinha mal preparada jamais seria a de Bolton.
Enquanto Trump diz que tem opiniões “muito mais fortes” do que Bolton em relação a Cuba e Venezuela, mantém Elliot Abrams, mas abre a VAU, com um diplomata com perfil diferente. Todos, claro, voltados para a derrubada do chavismo na Venezuela. Sem ilusões, mas com flexibilidade.
O problema de John Bolton não foi só a opção pela violência e a intransigência. A dificuldade é que Bolton não representa outra opção do que o confronto. Para isso os EUA têm muitas alternativas em pessoas como Elliot Abrams e outros. Até mesmo o presidente com suas atitudes intempestivas contribui para isso. Na Venezuela, a derrota de Bolton foi acachapante. Prometeu, teve todo o apoio e não entregou. O alerta já havia sido feito por Sun Tzu, o general, estrategista e filósofo chinês, autor de Arte da Guerra: “predizer uma vitória que o vulgo pode prever, e ser considerado universalmente sábio, não significa ter habilidade bélica. Pois não requer muita força levantar a penugem dos coelhos no outono". E continua: “Os hábeis guerreiros .. preveem todas as eventualidades. Conhecem a situação do inimigo, conhecem-lhes as forças, e não ignoram o que podem fazer e até onde podem ir. A vitória é uma decorrência natural desse saber”. Bolton agiu mais como um fanfarrão e não como estrategista.
E os EUA precisam também garantir o fluxo dos negócios e implementar sua política de convivência tensionada com os países mais poderosos. Contra a China, por exemplo, sua estratégia é tentar atrair a Rússia e romper a aliança entre Pequim e Moscou. Bolton foi desastrado confrontando o presidente Vladimir Putin. Em viagem pela Europa Oriental, zona importante para a Rússia por ser uma área de transição com a Europa, Bolton passou por Ucrânia, Moldávia, Bielorrússia e Polônia e elogiou medidas para atrair investimentos e influência ocidentais nos antigos estados clientes de Moscou. A visita à Biolorrúsia é quase uma provocação: "É extraordinário que o embaixador Bolton tenha ido para a Bielorrússia", disse Heather Conley, diretora do Projeto Europa no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, ao Washington Examiner.(13) "É claramente uma mensagem forte para o Kremlin, que - à medida que o Kremlin se torne mais profundamente envolvido em nosso bairro, seja Cuba ou Venezuela - os EUA desempenharão um papel mais assertivo em seus países vizinhos". Segundo a Time(14), “no dia seguinte, o presidente Trump pareceu contradizer esses planos. ... Trump pediu a Bolton e outros funcionários do governo que suspendessem US$ 250 milhões em ajuda à Ucrânia, enquanto se aguarda uma revisão oficial se esse apoio está alinhado com os interesses dos EUA” - exatamente o contrário do que havia dito Bolton em visita ao país.
Por outro lado, a saída dos EUA do acordo de controle de armas nucleares com o Irã ocorreu um mês depois da nomeação de Bolton. Foi considerado uma vitória sua. E, hoje, o cerco a Teerã continua cada vez mais apertado, forçando uma situação de confronto, ou pelo menos esperando que os iranianos façam uma jogada errada para justificar uma ação mais dura. O país está sendo garroteado. Por outro lado, tem o petróleo. Qualquer conflito mais sério naquela região – os EUA envolveram também os britânicos na ação -, pode comprometer largamente o abastecimento de petróleo ao Ocidente. Esse conjunto de ações em temas sensíveis como no Afeganistão já citado aqui, tornou sua posição insustentável. Mas nada de essencial deve mudar: a convivência tensionado com os poderosos, inclusive tentando isolar a China da Rússia, e o aumento de pressão contra os menores. Mas nem sempre prevalecerá a confrontação. Afinal, os EUA sabem que o mundo não é mais o mesmo e que, apesar do seu enorme poderio, não estão e não irão ficar mais sozinhos no topo. Ou deveriam saber.
Atualização
O presidente Donald Trump indicou Robert O’Brien para ocupar o posto de Conselheiro de Segurança Nacional em substituição a Bolton. O’Brien também serviu ao governo de George W. Bush. Foi co-presidente da Parceria Público-Privada do Departamento de Estado dos EUA para a Reforma da Justiça no Afeganistão, lançada em dezembro de 2007 pela Secretária de Estado Condoleezza Rice, depois dos EUA devastarem o país. Foi também consultor sênior do governador Mitt Romney, que perdeu a disputa presidencial para Barak Obama em 2012.
Em 2017, chegou a ser cogitado por Donald Trump para secretário da Marinha. Em editorial, a publicação Orange County Register o considerou "o candidato ideal para garantir que o domínio global americano continue". No texto, destaque para trecho de artigo de O'Brien: "os benefícios para este país e para a comunidade internacional da Pax Americana que existe no mar há tanto tempo são derivados de uma robusta marinha americana", escreveu ele. "Se os EUA não reverterem imediatamente o declínio de sua frota, o livre comércio, o comércio e a navegação estarão em sério risco, assim como a própria segurança de nossa nação".
A indicação de O'Brien nesse contexto, é uma boa referência, considerando que a China definiu como estratégia, desde 2012, quando realizou o 18º Congresso do Partido Comunista, ainda sob a presidência de Hu Jintao, tornar-se uma potência marítima. Essa estratégia foi reforçada em 2015 e consta do documento "Estratégia Militar da China". Exatamente no subtítulo "Forçar o desenvolvimento em domínios críticos de segurança" está explicitado que "os mares e oceanos sustentam a paz duradoura, a estabilidade duradoura e o desenvolvimento sustentável da China. A mentalidade tradicional de que a terra supera o mar deve ser abandonada, e é necessário dar grande importância à gestão dos mares e oceanos e à proteção dos direitos e interesses marítimos. É necessário que a China desenvolva uma força militar marítima moderna, proporcional aos seus interesses nacionais de segurança e desenvolvimento, proteja sua soberania nacional e direitos e interesses marítimos, proteja a segurança de suas linhas marítimas estratégicas de comunicação (SLOCs, singla do inglês), seus interesses no exterior e participe da cooperação marítima internacional, de modo a fornecer apoio estratégico para se transformar em uma potência marítima". Esta mensagem foi reiterada em abril de 2018, quando o presidente Xi Jinping sugeriu que "a tarefa de construir uma marinha poderosa nunca foi tão urgente quanto é hoje".
Mais do que uma estratégia, essas diretrizes têm-se materializado em números. Segundo a publicação ChinaPower (15), "a partir de 2018, a Marinha Chinesa consiste em mais de 300 navios, tornando-a maior do que os 287 navios que compõem a força de batalha da Marinha dos EUA - os números para o tamanho da frota da Marinha do Exército de Libertação Popular incluem combatentes de superfície, submarinos, navios anfíbios, de patrulha e tipos especializados. Os tamanhos das frotas de outros países líderes são comparativamente menores. A Marinha Real Britânica conta com 75 navios e a Marinha Real Australiana possui uma frota de 48 navios". E mais: "novos navios estão sendo colocados no mar a uma taxa impressionante. Entre 2014 e 2018, a China lançou mais submarinos, navios de guerra, navios anfíbios e auxiliares do que o número de navios atualmente servindo nas marinhas individuais da Alemanha, Índia, Espanha e Reino Unido. Dezoito navios foram encomendados pela China apenas em 2016 e pelo menos outros 14 foram adicionados em 2017. Em comparação, a Marinha dos EUA encomendou 5 navios em 2016 e 8 navios em 2017. Se a China continuar a encomendar navios a uma taxa semelhante, poderia ter 430 navios de superfície e 100 submarinos nos próximos 15 anos".
Para alcançar esses objetivos a China vem investindo numa poderosa indústria bélica: "em meados da década de 1990, condições favoráveis de mercado e joint ventures [parcerias] com o Japão e a Coreia do Sul permitiram à China aprimorar suas instalações de construção naval e técnicas operacionais". Citando o Departamento de Defesa chinês, o ChinaPower destaca que a modernização e expansão desses estaleiros já superou os parceiros industriais. Essa política, "aumentou a capacidade de construção naval da China e ampliou as possibilidades industriais para todos os tipos de projetos militares, incluindo submarinos, combatentes de superfície, aviação naval”. "Esses avanços", continua a publicação, "também facilitaram a transição da China para uma superpotência comercial de construção naval. A produção da construção naval comercial passou de apenas 1 milhão de toneladas brutas em 1996 para 39 milhões de toneladas brutas em 2011, o que foi mais do que o dobro da produção do Japão no mesmo ano. Em 2018, a China superou a Coreia do Sul como líder global em pedidos de construção naval. Nos primeiros 11 meses de 2018, a indústria de construção naval da China capturou impressionantes 36,3% do mercado global".
Notas
1. — Baja precio de petróleo tras salida de John Bolton de administración Trump. Acessado em 15 de setembro de 2019.
2. — John Bolton puts his singular stamp on Trump’s National Security Council (John Bolton coloca seu selo singular no Conselho de Segurança Nacional de Trump) - Washington Post, publicada em 4 de março de 2019 e assinada por Karen DeYoung, Associate editor and senior national security correspondent; Greg Jaffe, National security reporter; John Hudson, National security reporter focusing on the State Department and diplomacy e Josh Dawsey, Reporter covering the White House. Acessado em 15 de setembro de 2019.
3. — HR McMaster: Why did Trump dump national security adviser? - BBC, publicado em 22 de março de 2018. Acessado em 15 de setembro de 2019.
4. — Idem nota 2
5. — Trump demite John Bolton, o terceiro assessor de Segurança Nacional de seu Governo - El País, publicado dia 10 de setembro de 2019, assinada por Yolanda Monge. Acessado em 15 de setembro de 2019.
6. — Idem nota 2.
7. — John Bolton’s turbulent tenure comes to a Trumpian end (O mandato turbulento de John Bolton chega ao fim) - Washington Post, publicada em 4 de março de 2019 e assinada por Karen DeYoung, Associate editor and senior national security correspondent;Josh Dawsey, Reporter covering the White House e John Hudson, National security reporter focusing on the State Department and diplomacy. Acessado em 15 de setembro de 2019.
8. — Idem nota 7
9 — Idem nota 7
10. — Quem é John Bolton, assessor de segurança nacional demitido por Trump Diplomata dos EUA condenado por Irã-Contra nomeado enviado especial para a Venezuela
11. — Discurso do Secretário de Estado Michael R. Pompeo, no dia 25 de janeiro de 2019, na Sala do Correspondente da Imprensa, Washington, D.C.
12. — US diplomat convicted over Iran-Contra appointed special envoy for Venezuela - (Diplomata dos EUA condenado por Irã-Contra nomeado enviado especial para a Venezuela) - The Guardian, publicado dia 26 de janeiro de 2019, assinado por Julian Borger. Acessado em 15 de setembro de 2019.
13. — Bohn Bolton’s Belarus trip stirs threat to Putin (Viagem de John Bolton à Bielorrússia gera ameaça a Putin), publicada em 30 de agosto de 2019 no Washington Examiner, assinada por Joel Gehrke.
14. — Ukraine Is Struggling to Make Sense of Trump and Bolton's Conflicting Messages on Russia (A Ucrânia está lutando para entender as mensagens conflitantes de Trump e Bolton sobre a Rússia), publicada na Time no dia 30 de agosto de 2019 e assinada por Simon Shuster.
15. — How is China modernizing its navy? (Como a China está modernizando sua Marinha?) - Publicado em 17 de dezembro de 2018 no China Power.